mardi 29 juillet 2014



Sim, ela disse.
Ela aceitou o desafio e depois de baixar as persianas, cobrir os moveis e trancar as portas, se foi.
Nao sem antes olhar pra trás e agradecer com um sorriso de gratidao e alivio.
Nao que a assustasse muito visto já ter feito inúmeras vezes o mesmo percurso.
Ainda assim aquele no' no estômago veio.
Mas nada que uma respiração profunda durante 30 segundos nao pudesse resolver.
Entao ela se foi.
Malas, bagagens, sacolas, maletas e sonhos (rasos dessa vez mas eram sonhos).
Excesso de peso? Nenhum.
Consciência tranquila, coração desperto e leve.
Um gostinho bom deixado na pele depois dos últimos dias de sol e risos.
Tudo tao simples assim.
Bem do jeito que ela pediu.
Assim como ela queria que fosse: suave.
E o medo ficou no check in do aeroporto.
E os bolsos repletos de ansiedades, mas todas elas eram também passageiras,
Embarcaram junto.
Rumo ao oceano de desejos que insistia em faze-la tremer a cada novo pensamento.
A cada imagem que surgia em sua mente
Aqueles olhos verdes que ela ainda nao vira
Aquele sorriso um tanto ironico
mas enigmático que ela teria o desafio de desvendar.
Ela foi tranquila, no fundo foi.
Mas com a certeza de que se nao fizesse por assim merecer, os planos seriam breves.
Breves o bastante pra retornar num piscar de olhos.
Serena e sem o sereno da noite em seus ombros, ela chegou.
Sorriu pro calor abafado e pro céu cinza.
Mais uma vez agradeceu muito.
Nem tanto pelo avião nao ter explodido nos ares mas pelo simples fato de estar de volta.
De volta nova, de olhos sem filtros, de boca sem beijos e sem saliva alheia.
Voltou sem saber se volta ou se fica. Apenas voltou.
Voltou seu destino pro outro lado do mar.
Pro segredo que ainda insiste em residir no seu peito.
Pra que pressa pra se descobrir de novo, e de novo?


samedi 19 juillet 2014



Essa luz que ao mesmo tempo cega e encanta
atravessando a janela do quarto
e cobrindo meus ombros pintados
Essa cor que alaranjada escorrega e vai descendo até a barriga
Esse calor que mesmo no inverno torna os dias curtos em longas esperas
Essa fome que atiça o peito despido de pretensões.
Esse ser que insiste em ficar escondido, ainda que ao meu lado
Essa passada larga de pés descalços de risos soltos
e vultos que insisto em nao enxergar.
Volto meus olhos pro tempo
Volto meus labios pro céu
Volto meu rosto pra bem perto das tuas narinas
com a esperança discreta de sentir teus lábios se aproximarem dos meus.
E ainda assim, mesmo que em sonho,
pouso meus braços em volta do teu pescoço e finjo abraçar a noite enquanto o sol insiste em queimar a pontinha do meu queixo.
Espaço, tempo, distancia, efemera vida
Sutil pensamento que cruza as portas das casas
Atravessa vidraças e ruas estreitas
Vistas aéreas e subaquáticas
e ainda mesmo agora
quando fecho os olhos
posso sentir o coração jorrando o gosto de beijo que ainda nao dei.
Quem sera que me espera la do outro lado?

lundi 14 juillet 2014

Paisagem e Libertaçao



Esses dias li uma frase em algum lugar que dizia algo do tipo: nao pergunte ao passado pois ele nao tem  nada de novo pra te contar.
Verdade seja dita: nao tem.
E rever velhas fotos e reencontrar antigas caras que desbotaram com o tempo, ja nao me acrescenta nada.
O dia em que consegui destrancar a porta e deixei sair um a um cada fantasma que ainda insistia em dormir comigo, foi a gloria.
Foi ver finalmente as paisagens que se escondiam por tras de um filtro cinza.
Foi respirar sem a ajuda de um balão de oxigênio.
Foi sentir o vento despoluido em meu rosto.
Libertar-me de toneladas que insistiam ainda em habitar meus ombros.
Sorrir pro céu e nao precisar abrir meus olhos pra olhar pra quem.
Foi reparar que aquele pássaro posado no fio de  luz em frente a minha janela, nao era realmente solitário so pelo fato de nao estar em par.
Foi sentir a casa iluminada mesmo tendo todas as luzes apagadas.
Foi beijar o rosto no espelho sem se preocupar se alguma nova ruga ou fio de cabelo branco insistiam em abanar e chamar a atenção dizendo: olha! estou aqui! o tempo passou…
Mas é claro que o tempo passou e ante a minima possibilidade de que o panico se espalhe ja levanto os braços e grito:
Sim, o tempo passou e o melhor é agora.
Nao interessa se os meus labios secos e rachados do frio cinzento vao arder.
Nao interessa se os dias chuvosos virão de novo e se a noite nao poderei enroscar minhas pernas nas tuas.
Passou. Passado. Ficou la atras.
Porque se olho hoje, nao é pra frente mas pra cima.
Olho, oro e agradeço.
Eu consegui chegar aqui com minhas próprias pernas, mesmo de joelhos esfolados, maos tortas, dedos sem mais anéis.
Eu consegui.
Eu respiro profundamente e sinto que meus pulmões se renovam.
Sinto que a paisagem em frete me liberta.
Sinto e sei que agora é pra valer.
O valor de toda uma vida.